ARQUITETURA EMERGENCIAL: UMA PROPOSTA DE ABRIGO TEMPORÁRIO
EMERGENCY ARCHITECTURE: A PROPOSAL OF TEMPORARY SHELTER
SANTOS, HAMON DE MELO
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo (IESP), hamonms@gmail.com
MONTENEGRO, ALINE PAIVA
Mestre em Desenvolvimento e Habitat Urbano (PRODEMA-UFPB),
Professora do Curso de Arquitetura e
Urbanismo do IESP, alinemontenegro@iesp.edu.br
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido na graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Educação Superior da Paraíba – IESP. O trabalho trata da concepção de um abrigo temporário, isto é, uma habitação de caráter emergencial para abrigar pessoas que por algum motivo tenham perdido sua moradia, seja em decorrência de desastres naturais ou não. Neste irá conter um breve histórico da evolução das habitações transportáveis, assim como as definições da arquitetura emergencial e sua importância, e como um abrigo temporário funciona mediante a casos de vulnerabilidade. Ao longo deste trabalho serão expostos alguns tipos e sistemas de abrigos já adotados, com o intuito de trazer reflexões sobre o tema, como também auxiliar na concepção projetual da proposta do trabalho de conclusão de curso, que resultou no presente artigo.
PALAVRAS CHAVES: arquitetura emergencial, abrigo temporário, abrigos emergenciais.
ABSTRACT
This work was developed in the graduation in Architecture and Urbanism of the Higher Education Institute of Paraíba – IESP. The work deals with the design of a temporary shelter, that is, an emergency housing to house people who for some reason have lost their homes, whether due to natural disasters or not. This will contain a brief history of the evolution of transportable housing, as well as the definitions of the emergency architecture and its importance, and how a temporary shelter works through cases of vulnerability, such as the time of homelessness faced by many inhabitants around the world. Throughout this work will be exposed several types and systems of shelters already adopted, with the intention of bringing reflections on the theme, as well as assisting in the design of the proposal of the course conclusion work, which resulted in this article.
KEYWORDS: emergency architecture, temporary shelter, emergency shelters.
INTRODUÇÃO
Atualmente, o número de desabrigados tem aumentado, seja em decorrência de desastres naturais, rompimento de barragens de mineradoras, incêndios, ou até mesmo perseguições religiosas e guerras civis, a urgência e a necessidade por abrigo são a mesma.
Na grande maioria dos casos, a solução adotada por muitas cidades a nível nacional e internacional, se refere a abrigar os habitantes em equipamentos públicos, tais como ginásios, escolas, até mesmo sedes de órgãos governamentais. Esse tipo de solução incorre em duas problemáticas estruturantes, os espaços não são adaptados à moradia, desta forma a privacidade do núcleo familiar fica exposta. Os serviços públicos, já escassos, são interrompidos, no caso de situações emergenciais.
“De um modo geral, em um cenário urbano emergencial, alguns problemas podem ser destacados, tais como, a ausência de moradia, destruições de ecossistemas e infraestrutura urbana, fome e doenças diversas. Com isso, se faz necessário pensar em como abrigar a população em situações de emergência e vulnerabilidade, isto acaba se tornando uma atribuição dos projetistas, sejam eles designers, arquitetos e urbanistas, e engenheiros, contemporâneos.” (NEGRÃO et al., 2017, p. 24)
Neste contexto, este artigo é resultado de um trabalho de conclusão de curso com a finalidade de propor um abrigo de caráter emergencial temporário, com o intuito de atender às populações desabrigadas e que estejam em situação de vulnerabilidade, fazendo com que o abrigo se adeque as necessidades do usuário, assim como, cumpra a principal premissa, o ato de abrigar.
Para o desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso que resultou neste artigo, fora realizado uma revisão bibliográfica buscando em referenciais projetuais, assim como em bases de dados científicas e de institutos não-governamentais esites de internet especializados no tema, com o intuito de coletar dados para auxiliar no desencadear deste. A adoção de procedimentos metodológicos ocorreu desde a análise de projetos correlatos, pesquisa técnica e legal, e por fim a sistematização das informações que deram subsídio para a elaboração deste trabalho.
DESENVOLVIMENTO
O contexto histórico
A necessidade do homem em abrigar-se sempre existiu, na maioria das vezes em decorrência de mudanças climáticas que colaboravam para as habitações transportáveis como melhor solução. Com o passar dos anos essas mudanças fizeram com que houvesse uma maior busca por fonte de alimentos, e consequentemente o estabelecimento, e criação de abrigos.
“A questão da habitabilidade, de mudar-se de território para território, fazia parte do essencial para a sobrevivência dos primeiros homens, e era fundamental, a obtenção de alimento e abrigo. Assim como suas ferramentas, suas armas e roupas, os abrigos demostraram que sem eles, não teriam sobrevivido.” (ANDERS, 2007, p.44)
“Com a necessidade de se deslocar para procurar alimentos, como também estar próximo a sua fonte de alimentação, fizeram com que esses aspectos se tornassem determinantes e dado origem aos abrigos artificiais. No período glacial, os principais materiais de construção de abrigos, eram peles e grandes ossos de animais, esses abrigos tinham estruturas móveis que eram facilmente montadas e desmontadas, e transportadas, fornecendo ao homem, que caçavam, coletavam, as habitações temporárias” (MARINHO, 2013, p.44).
Neste contexto, por diversos anos os abrigos, de diversos tipos e variadas formas, foram a principal moradia de muitos povos de diferentes culturas, desde os iglus dos povos do ártico, a tendas dos povos nômades.
A contribuição militar no desenvolvimento das habitações de caráter emergencial
A elaboração de edifícios militares influenciou diretamente na concepção de edifícios desmontáveis, ou seja, a produção de abrigos portáteis. Não se pode deixar de ressaltar a importância da contribuição militar no desenvolvimento das habitações de caráter emergencial. A produção de abrigos no séc. XIX fez com que a vida do soldado em guerra, tivesse um pouco mais de qualidade, no que diz respeito a condições de moradia em campo, assim como a provisão de instalações médicas.
“O crescimento acelerado de pessoas envolvidas em operações militares durante o século XX, conflitos aliados à escassez de materiais convencionais por questões logísticas e ao impacto da tecnologia no aparato militar, fizeram com que surgissem novas técnicas na provisão de abrigos portáteis. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), muitos soldados eram acomodados em barracas, embora já houvesse planos para provisão de abrigos portáteis, no entanto eles eram usados na Europa, para caça durante o inverno.”(ANDERS, 2007, p.49)
Os primeiros abrigos desenvolvidos pelos militares possuíam estrutura em madeira, porém eram pesados, de montagem um tanto quanto complicada e de difícil transporte. Em decorrência disso, o engenheiro canadense Capitão Nissen desenvolveu o abrigo Nissen Hut (figura 1) que substituíra todos os abrigos até então desenvolvidos. Este abrigo se tornou o mais utilizado durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais.
Figura 1: Elevação e seção do protótipo do abrigo Nissen Hut. Em 1917.
Até 1917, cerca de aproximadamente 20.000 abrigos Nissen estavam em uso, fornecendo acomodações para mais de 500.000 soldados. Todo esse sucesso foi devido ao fato da sua estrutura utilizar componentes que eram fáceis de fabricar, intercambiáveis e obedecerem a uma coordenação modular que facilitava sua montagem em campo. Entretanto, durante a Segunda Guerra Mundial houve grande escassez de aço, material intensamente consumido pela indústria bélica.
O pós-guerra e o desenvolvimento de novos abrigos
A destruição causada pela Segunda Guerra Mundial fez com que se iniciasse o incentivo ao desenvolvimento de novas propostas para abrigos, levando em conta a questão dos refugiados, e consequentemente desabrigados. “E de acordo com o autor, essas experiências foram de grande valia, algumas propostas utilizando novos materiais e tecnologias inovadoras, porém, seguiam princípios que norteavam os projetos que são eles: ser adaptável ao local (terreno); ter flexibilidade (layout e forma); apresentar facilidade de transporte e montagem; e ter fabricação de baixo custo.”(ANDERS, 2007, p.51)
O desenvolvimento de edifícios portáteis durante as Primeira e Segunda Guerras Mundiais foi em grande escala, isto, foi em decorrência do avanço tecnológico nesse período.
Com isso, influenciados pelo desenvolvimento das técnicas de pré-fabricação como também pela possibilidade da produção em massa, arquitetos começaram a adentrar nesse nicho e desenvolver inúmeros projetos de abrigos portáteis, dentre esses arquitetos, destaca-se Buckminster Füller um dos primeiros arquitetos a propor uma habitação de caráter emergencial, o seu protótipo denominado “Wichita House”. O Archigram foi de grande importância para a evolução da arquitetura emergencial.A produção de abrigos por nomes como Mike Webb, David Greene, faz com que analisar e avaliar as contribuições deixadas pelo grupoatravés de uma nova perspectiva,se torne primordial para que possamos compreender a concepção de um protótipo de abrigo emergencial.
Figura 2: Wichita House, Living Pod Project de David Greene e o Cushicke de Mike Webb.
Arquitetura emergencial: para quê e para quem?
Entende-se que, Arquitetura Emergencial é aquela capaz de sanar problemas de infraestrutura, como a moradia, causados por fenômenos e desastres, naturais ou não. Fenômenos naturais podem acontecer de forma espontânea em qualquer local, e de certa forma, a todo momento. Estes fenômenos são manifestações não artificiais produzidas pela natureza, ou seja, independentemente da intervenção do homem. Como também, existem desastres causados pela intervenção do homem, a exemplo: rompimento de barragens, incêndios causados por má administração de empresas que lidam com produtos altamente tóxicos e combustíveis, ou até mesmo acontecerem de forma acidental, esses, não possuem ação direta da natureza, por isso, não podem ser considerados desastres naturais.
“Segundo dados obtidos desde o ano de 2000 até 2017, com base em consultas com organizações da sociedade civil, empresas públicas e privadas, e órgãos do governo federal, o Instituto Igarapé identificou que pelo menos, 8,8 milhões de pessoas foram deslocadas de forma forçada no Brasil, sendo que 6,4 milhões do total abandonaram seus lares em função de desastres naturais ou provocados pelo homem, e outras 1,2 milhões em decorrência de projetos de desenvolvimento como por exemplo a construção de estádios, linhas de metrô, aeroportos, ferrovias, barragens, dentre outros. Considerando o número total de pessoas que foram deslocadas, ou seja, consequentemente ficaram desabrigadas, em todo Brasil identifica-se que apenas 10.022 são pessoas refugiadas, vindas de outros países. Outro fato importante, mas ainda não comprovado, tendo como base apenas dados quantitativos sobre pessoas deslocadas no contexto urbano, obtidos através de entrevistas, é a violência em espaços rurais, um dos fatores que também contribuem para a migração forçada que corresponde ao número de 1,1 milhões de pessoas. Que pode ser considerado um êxodo rural, mesmo que não seja pela busca de melhores condições de vida, e sim de forma forçada, muitas das vezes por grandes indústrias, fazendeiros, dentre outros que estão interessados em suas terras.” (FOLLY, 2018, p.2)
Conforme citado acima, através de Folly (2018), nota-se que o número de pessoas desabrigadas no Brasil tem crescido cada vez mais, independentemente da causa. Assim como, a demanda por abrigo temporário tem sido discutida, não somente no Brasil, como ao redor do mundo, sendo tema de concursos na área da arquitetura emergencial e a provisão de abrigos, em países como o Nepal, Haiti, Indonésia, dentre outros, que foram devastados por fenômenos da natureza, a exemplo de terremotos, tsunamis, etc, deixando milhares de mortos, e consequentemente, milhares de pessoas sem moradia.
“Atualmente, o Brasil enfrenta múltiplas crises de deslocamento forçado,desde 2016, milhares de venezuelanos cruzaram a fronteira com o Brasil, muitos deles em busca de segurança, e até mesmo sobrevivência, não se pode deixar de atentar ao fato de que, o país recebe refugiados de mais de 80 nacionalidades, dentre eles haitianos que somam uma grande quantidade. No entanto, se faz necessário ter consciência de que o número de brasileiros que são forçados a se deslocarem, cresce a cada ano, em função de desastres naturais, da violência sistemática, assim como de empreendimentos de desenvolvimento.” (FOLLY, 2018, p.2)
De uma maneira geral, nota-se o quão têm sido necessária a contribuição da arquitetura emergencial no âmbito nacional e internacional, no que diz respeito a provisão de abrigos temporários.
“O profissional de Arquitetura e Urbanismo, além de ser provido de uma formação abrangente, em relação a aspectos socioeconômicos e culturais, o mesmo pode ser dono de uma visão ampliada, e pode se tornar peça chave no processo evolutivo no que diz respeito ao socorro às vítimas em situação de vulnerabilidade e que necessitem de moradia. Usando de suas ideias criativas, e que sejameconomicamente viáveis e ecologicamente corretas, aplicadas a um protótipo emergencial podem amenizar o impacto, prover segurança, como também melhorar as condições psicológicas dos afetados, e facilitar o trabalho da Defesa Civil. A arquitetura emergencial talvez seja a forma mais humana que a arquitetura pode ter, pois, provém para todos, sem distinções, sejam elas de raça, religião, ideologia política ou status social.” (MONTEIRO, 2012, p.14).
“Um abrigo emergencial deve sustentar a vida. As pessoas em um desastre ou os refugiados em casos de conflitos armados, todos têm necessidade imediata por abrigo. O abrigo de um modo geral, não só deve ser acessível, como também ter uma fonte de água, um sistema sanitário, provisão de alimentos e de atendimento médico. Todas essas necessidades são imediatas em uma emergência, no entanto devem ser tratadas como provisórias, somente até a reabilitação e reconstrução de uma moradia definitiva.” (ANDERS, 2007, p.58)
Sobretudo, não se pode deixar de salientar que, apesar do abrigo ser uma habitação temporária, ou transitória, não deixa de ser uma habitação. Dentre as várias formas de abrigos, também estão os diferentes conceitos do que é habitação, a exemplo da diferença entre permanente, temporária e transitória.
Para isso, se traz a definição dada por Barbosa (2012):
“Habitação” engloba habitações permanentes (feitas com um alto grau de complexidade e resistência), temporárias (tendendo aos abrigos, com um baixo grau de complexidade) e transitórias (aquelas que são construídas primeiramente como temporárias, tendo um baixo/médio grau de complexidade num primeiro momento, mas que permite reformas graduais, podendo se transformar em uma casa permanente). (BARBOSA, 2012, p. 5)
“Quanto a arquitetura emergencial,destaca-se algumas características importantes da arquitetura emergencial, que podem influenciar diretamente na concepção projetual. Esses critérios são divididos da seguinte forma:” (NEGRÃO et al., 2017, p. 30)
- a) rápido fornecimento;
- b) baixo custo;
- c) fácil exequibilidade e adaptabilidade.
No que foi citado acima, o rápido fornecimento do abrigo pode estar ligado à forma que ele foi concebido, a exemplo de que tipo de materiais foram utilizados, assim como quantos materiais foram especificados, já que, quanto maior for a quantidade de material especificada, maior será o tempo de produção, como também a transportabilidade através do peso total do abrigo e do tamanho das peças, assim como o baixo custo está ligado aos materiais utilizados, da mesma forma, o item C destaca a fácil exequibilidade e adaptabilidade, isso compete ao fato de que os abrigos devem ser de fácil execução, ou seja, de fácil montagem, assim como adaptável, seja as necessidades do usuário, adequação ao clima, assim como adaptabilidade ao local implantado.
Segundo Andersexistem duas linhas de pensamento tangíveis à construção de um abrigo emergencial: uma que sugere intervenção mínima, somente o suporte à vida, a outra que propõe a intervenção planejada e de certa forma mais adequada, no entanto com uma observação, de que pode gerar alguma dependência. Em primeira proposta, são adotadas construções in loco, que são aquelas que utilizam materiais de baixo custo que estejam disponíveis ou no local do desastre, ou próximo. Assim sendo, a partir dessas duas linhas de pensamento do autor, os abrigos são classificados em dois grupos: as construções in Loco e os kits.(ANDERS, 2007, p.61)
Construções in loco: São abrigos que podem ser construídos com materiais disponíveis no local. Os custos são de certa forma mais baixos. Esses materiais podem ser reciclados pela população local após o período de emergência, e serem utilizados até na construção de uma moradia definitiva. (ANDERS, 2007, p. 61)
Kits: “Precisam ser duráveis, devem ser estocados e transportados em unidades pequenas, leves, com aparência de temporário e aceitabilidade cultural. Agrupa-se da seguinte forma: Module, Flat-pack, Tensile e Pneumatic.” (Kronenburg (1995, apud JUNQUEIRA, 2013, p. 28)
Por fim, a breve discussão em torno da arquitetura emergencial trazida neste tópico, tem o intuito de não somente justificar o objetivo desse trabalho, assim como explanar de forma breve as principais causas que fazem com que seja necessário a provisão de abrigo, como também, balizar e nortear a concepção projetual do produto final desse trabalho, que tem como intuito uma proposta de um abrigo temporário de caráter emergencial.
A Proposta
A proposta projetual deste trabalho, tem como principal objetivo propor um abrigo de caráter emergencial temporário para clima tropical quente-úmido, para todo aquele que necessite de abrigo. A necessidade por abrigo se dá através de uma série de fatores, sejam eles, desastres naturais, ou acontecimentos cotidianos como é o exemplo das perseguições políticas, e guerras civis instaladas em vários países do mundo. A forma a qual essas pessoas são locadas mediante a um acontecimento desses, é o que motiva a elaboração desse trabalho, uma vez que, os indivíduos que passam por essas situações são abrigados de forma errônea. Fornecer abrigo temporário de forma digna, que respeite a unicidade de cada indivíduo, embora não seja lei, se faz necessário no que diz respeito à dignidade do indivíduo em um momento tão conturbado, como é a perda de uma moradia.O principal objetivo é fazer com que o abrigo emergencial seja fornecido de maneira digna a quem possa necessitar, como também oferecer o mínimo de conforto necessário para o habitar, por mais que seja uma solução temporária.
No diagrama a seguir (figura 3), é possível entender como se deu o processo projetual após toda a coleta de dados em manuais da defesa civil, normas, e análise de projetos correlatos. A escolha do sistema flat-pack e os materiais foram os principais norteadores durante a concepção da proposta.
Figura 3: Diagrama de processo projetual
Mediante ao partido e conceito adotado, a palavra integração tornou-se intrínseca ao processo de concepção da proposta, uma das principais formas de integrar os usuários, foiatravés de cobertas que se unem gerando uma área que pode ser utilizada como área de vivência, ou até mesmo se tornar um novo cômodo no caso de necessidade, necessitando apenas de painéis para a vedação. Seguindo os preceitos ditados pela Defesa Civil, em que se recomenda no mínimo 3m² por pessoa, assim como a possibilidade de modificação de layout conforme a necessidade, se tem as seguintes alternativas de layout ilustradas na figura 4, utilizando de um mesmo módulo, ou combinando mais de um caso haja necessidade.
Figura 4: Simulação de Layout
Na proposta de layout 1 temos a opção de utilizar dos painéis articulados para criar dois ambientes, assim como resguardar uma possível área íntima do abrigo. Já no layout 2 e 3, se tem a demonstração da capacidade total do abrigo que é de 4 pessoas. Cada abrigo possui em média 21,6m².Na proposta abaixo conforme ilustra a figura 5, temos a simulação de uma possível expansão, caso haja necessidade, se tem a opção de criar um novo cômodo de forma independente, assim como a opção de manter essa área, como área comum, criando uma área de vivência.
Figura 5: Simulação de expansão
No corte esquemático demonstrado através da figura 6, demonstra-se um pouco de como funciona a estrutura do abrigo desde o seu embasamento utilizando uma malha de vigamento em aço utilizando perfis tipo “I”, como o detalhe do reservatório de águas pluviais reaproveitadas através da coberta. Esses e outros detalhes poderão ser melhor entendidos em tópicos que sucederão esse.
Figura 6: Corte esquemático demonstrando solução das cobertas da proposta
Figura 7: Imagem de maquete eletrônica demonstrando possível implantação.
Acima temos uma imagem que ilustra a possível implantação do abrigo temporário em forma de acampamento, assim como se dá a sua dinâmica interna e funcionamento. A volumetria da proposta é pautada na simplicidade e pureza dos materiais, a chapa de OSB em sua essência e o aço apenas com pintura para proteção de corrosão, e como membrana o uso da lona de PVC.
A flexibilidade e adaptabilidade
Visando o aproveitamento da solução encontrada para o abrigo, optou-se por simular outras funções arquitetônicas a qual o módulo pode suprir, como também com o intuito de cumprir com o programa de necessidades que um acampamento para abrigos temporários necessita a exemplo de sala de administração, espaço de recursos multifuncionais, espaço oficina-ateliê, capela ecumênica,depósitos, refeitório, cozinha, lavanderia, depósitos de materiais de limpeza, e sala de atendimento ambulatorial. Para suprir a necessidade por sanitários e vestiários, optou-se por utilizar e adaptar os contêineres para a finalidade, uma vez que a Defesa Civil destaca a importância em essas áreas serem coletivas, para viabilizar a manutenção.
Figura 8: Simulação de Sala ambulatorial.
Figura 9: Simulação de espaço de recursos multifuncionais.
As chapas de vedação podem ser substituídas por painéis de mesmo material (OSB) mediante a necessidade tanto por conforto ambiental utilizando com janelas pivotantes, conforme ilustra a figura 10, ou mediante a necessidade por funcionalidade utilizando os painéis multifuncionais criados junto a proposta do abrigo.
Figura 10: Simulação de ventilação.
Figura 11: Perspectiva interna.
Um dos principais questionamentos acerca dos abrigos temporários, são as possibilidades de implantação quando se refere as condições do terreno, na grande maioria das situações de pós-desastre, o terreno pode se tornar íngreme e possuir desníveis que podem inviabilizar a instalação de um abrigo. Partindo desse pressuposto, notou-se a necessidade de propor uma forma que o abrigo pudesse se adaptar as condições do terreno, de forma simples, sem grandes modificações em sua estrutura. Abaixo, através das figuras12 e 13 ilustra-se como funciona a estratégia, que faz uso de pés niveladores já existentes no mercado, que suportam até 1.500KG cada.
Figura 11: Implantação em terreno acidentado.
Figura 12: Implantação em terreno acidentado.
Embora tenha sido concebido para clima tropical quente-úmido, a proposta de abrigo pode se adequar a outros contextos e climas, a possibilidade na substituição dos painéis de vedação simples, por painéis com janelas por exemplo, torna possível o habitante adaptar seu abrigo mediante a condição climática do local onde se encontra.
A implantação
Este subtópico tem o principal objetivo de simular uma possível implantação do abrigo em um contexto, ou seja, no caso um acampamento. Para esta proposta foi utilizado um terreno semelhante ao tamanho de um campo de futebol de aproximadamente 7,500m², a Defesa Civil determina que para cada habitante deve-se prever uma área de 30 a 40m² por pessoa, nesta simulação se tem 14 módulos de abrigo, cada um com capacidade máxima de 4 pessoas, caso haja expansão do módulo, esse número pode variar para 6 ou 8 pessoas, com a expansão de todos os abrigos, se tem um número total de aproximadamente 112 habitantes.
Figura 13: Simulação de Implantação.
Na implantação de um acampamento de abrigos além do que se pede em programa de necessidades considerado básico, há muitas outras estratégias que podem contribuir para uma melhor estada dos usuários, a exemplo de equipamentos de lazer, mobiliários urbanos, dentre outros. Quanto a infraestrutura básica, a defesa civil em seu manual destaca que acampamentos para abrigos devem possuir energia elétrica, drenagem no terreno, assim como água potável, se possível encanada, além dos pontos de apoio espalhados pelo abrigo que geralmente é onde estão bebedouros, voluntários, dentre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como principal objetivo adquirir conhecimento no âmbito da arquitetura emergencial, assim como adquirir embasamento teórico que pudesse respaldar o entendimento acerca dos abrigos temporários, e posteriormente dar subsídio para a elaboração da proposta. Ao longo do trabalho foram abordados diversos aspectos, desde o histórico e a evolução das habitações transportáveis, assim como as variadas formas de fornecimento de abrigo, embora a arquitetura emergencial esteja sempre ligada a desastres naturais, durante o desenvolvimento desse trabalho tornou-se possível perceber que as causas de pessoas desabrigadas vão muito além de desastres naturais, a exemplo das situações de deslocamento forçado provenientes de perseguições religiosas, guerras, projetos de desenvolvimento, dentre outros.
Mediante o desenvolvimento da pesquisa finalizado, o projeto passou a ser desenvolvido. O objetivo de propor um abrigo temporário de forma digna, e que se adaptasse as necessidades do usuário, fez com que ao longo do processo fossem criadas diversas propostas, porém, optou-se por dar continuidade àquela que pudesse ser executada diante da realidade econômica em que muitos países se encontram logo após um desastre. Além do mais, propor um abrigo que pudesse ser
fornecido pelo governo federal ou por qualquer outra autarquia, no que diz sentido a exequibilidade e a orçamento.Além do objetivo principal de propor um abrigo, preocupou-se com outras questões a exemplo de propor solução para módulos sanitários, de cozinha, assim como capela ecumênica, sala de atendimento ambulatorial, dentre outros, cujo a intenção maior deste trabalho fora propor algo que pudesse fornecer o mínimo de conforto aos indivíduos em um momento tão delicado, como é a perda de seu “habitat”, sua morada.
REFERÊNCIAS
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