História do artesanato com flores e material recolhido na natureza
Quero começar este texto dizendo que creio ser este um dos poucos casos no qual primeiro se aprende a técnica e depois o nome da mesma.
Faço artesanato com recursos e materiais encontrados na natureza desde criança. Na minha região natal, os Alpes Italianos, é muito comum esta prática. Lá, no inverno, não tem muito a se fazer e alguns gostam de ocupar o tempo nas longas tardes invernais fazendo artesanato, preferivelmente, com o fogo aceso e uma xícara de chá quente.
Aos 20 anos comecei a fazer quadros com flores e folhas secas prensadas e colocadas em um “sanduíche de vidros”; os fazia pra presentear ou decorar a minha própria casa.
Agora, que sou artesão de profissão, me foi pedido para escrever sobre o assunto e comecei a pesquisar sobre a origem do artesanato que eu aprendi há tanto tempo.
Inicialmente, pensava que fosse uma aplicação do estilo Biedermaier, um estilo Austro-Húngaro da época pós-napoleônica, ainda usado pra fazer artesanato na região onde foi criado, ao nordeste da Itália.
Minha mãe confeccionava bibelôs e enfeites da árvore de Natal neste estilo … mas, para minha surpresa, na pesquisa que fiz para este texto, encontrei uma técnica pouco conhecida de origem nipônica que teve origem no século XVI!
Os Samurais desenvolveram esta técnica, chamada Oshibana, como disciplina para treinar a paciência, a harmonia da natureza e o poder da concentração. Maís tarde, através do comércio entre oriente e ocidente esta arte foi conhecida pelos ingleses, em pleno período vitoriano. Sua aplicação se deu em sintonia com as características da arte da época e, mesmo trazendo inovações, continha elementos típicos de épocas anteriores, como o barroco, rococó, neoclássico e gótico.
A técnica se tornou popular por volta de 1.890.
Na mesma época, botânicos na Europa desenvolveram várias formas de artes utilizando flores e folhas prensadas secas pois, conservando-as desta forma, podiam apreciar também sua anatomia.À época era a forma mais eficaz de se conhecer e estudar a flora de outros países, cujo acesso aumentou grandemente, impulsionado pelo aumento das navegações e, consequentemente, das interações entre os continentes.
No século XX, na Terra Santa, em Jerusalém, foram encontrados registros de seu uso no adorno de livros sagrados e na confecção de outros artefatos a fim de vendê-los aos peregrinos e visitantes.
Eu, particularmente, gosto deste processo, a secagem de flores, conhecida tecnicamente como exsicação. Parece que as formas e desenhos ficam acentuadas.
Pessoas famosas praticam e praticaram a arte Oshibana. Grace Kelly, quando princesa de Mônaco, foi uma delas.
Com o passar do tempo não somente a arte, mas também a forma de coletar a matéria prima foi aprimorada, com a finalidade de se preservar, através da melhor conservação, a qualidade e as cores das flores.
No momento da coleta é importante avaliar as características do elemento a ser coletado, sua forma, pigmentação e percentual de água contido tanto quanto o período. O momento da colheita (dia, hora do dia,) também é importante ponto a ser observado, já que, dependendo do dia e do horário, o estado de hidratação da planta é diferente.
Para a secagem são utilizadas prensas ou estufas mas, um velho livro também serve. Na montagem da peça lacrá-la a vácuo também ajuda a manter por mais tempo suas qualidades protegendo-a de ar e umidade; ao contrário, a exposição a luz solar direta acelera o processo de deterioração.
Na minha prática seco as flores em uma prensa com um papel absorvente ou em livros. Algumas flores são trazidas do exterior.
Os quadros são “sanduíches de vidro” vedados com silicone nas bordas e emoldurados.
Neles, muitas vezes, aplico a Sequência numérica de Fibonacci, principalmente quando desenho mandalas ou espirais.
Esta sequência é obtida através de números inteiros, começando, normalmente, por 0 e 1, na qual, cada termo subsequente corresponde à soma dos dois anteriores. … 0,1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, sucessivamente.
Fibonacci descobriu que esta repetição numérica é presente na natureza. Podem relembrar a brincadeira de bem-me-quer ou mal-me-quer. A margarida comum tem sempre 13 ou 21 pétalas por isso, saia sempre bem-me-quer e ficávamos felizes! (Existem algumas margaridas com 34 pétalas mas não considerem…).
Não encontramos estes números somente na quantidade de pétalas ou folhas, mas também em diversos seres vivos e nas proporções das formas espirais.
Acredito que aplicar esta matemática nos meus quadros me ajude a encontrar a harmonia das formas que é requerida nesta técnica.
Como faziam os botânicos da época vitoriana, o Oshibana continua sendo utilizado de várias formas, hoje em dia podem se encontrar vários objetos, como marcadores de livros, adornos, capas de celular, quadros de vários tipos e até móveis ou portas e janelas.
Eu, no momento, produzo quadros, bandejas, marcadores de livros. Futuramente produzirei moveis e elementos decorativos em paredes, portas e janelas.