VIVÊNCIA COM ARTE ARTE PROMOVENDO SAÚDE E CRIATIVIDADE
Drª Isabel Cristina Nóbrega[1]
Já é do conhecimento científico o potencial que a arte possui, em suas diversas expressões (pintura, escultura, música, dança etc), na promoção da saúde física, mental e emocional. Fazendo ou apreciando, a arte sempre contribuirá para uma vida mais saudável.
O Dr Paulo Barreto Campello de Mello, médico e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco – UPE e vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina e Arte explica que a prática da arte tem o poder de estimular, no corpo humano, a produção de anticorpos que fortalecem as defesas contra-ataques de vírus, bactérias e fungos nocivos. Dessa forma, combate infecções já instaladas e previne novas infecções.
Explica ainda que tanto a prática como a apreciação da arte estimulam o cérebro à fabricação de substâncias que trazem calma, alegria e relaxamento. E que ela atua também como ponte entre as emoções e o corpo de quem a pratica ou aprecia, possibilitando o cérebro enviar mensagens positivas ao organismo.
O Dr Campello de Mello enfatiza que o paciente sob sofrimento provoca doenças dermatológicas, estomacais ou cardíacas, e que a arte consegue atuar de forma benéfica no tratamento dessas doenças. Ele observa:
A arte na medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola.[2]
Atualmente, uma das ciências que vem se ocupando da cura por meio da arte é a Arteterapia. Em Psicopedagogia e arteterapia, Lou de Olivier faz distinção entre Arteterapia, Arte como Terapia e Arte-educação. A autora explica que,
a Arteterapia é uma ciência fundamentada em Medicina e Artes em geral, que estuda e pratica os meios adequados para aliviar ou curar os indivíduos por meio da expressão da arte, trazendo à tona uma idéia, trauma, fobia, etc., em uma catarse psicanalítica.[3]
Com relação à Arte como Terapia, Lou de Olivier explica que a relevância não está no processo psicológico, mas na produção artística do indivíduo.
E, com referência à arte-educação observa que o nome já explicita que se trata do ensino das técnicas básicas e das produções relacionadas às Artes.
Vivência com Arte é uma atividade que em um primeiro momento poderia ser classificada na categoria Arte como Terapia. Porém, ela não se limitada ao que segundo Lou de Olivier menciona, ou seja, um trabalho dentro do âmbito das Artes que,
não se importa com o processo percorrido nas produções do paciente, mas sim com a própria produção[4].
Diferentemente da Arteterapia, na proposta da Vivência com Arte não consta a análise psicológica do processo ocorrido com o indivíduo, tampouco a das suas produções durante as sessões. Porém, se o indivíduo, paralelamente, estiver em tratamento psicológico, os resultados na terapia serão bastante notáveis.
Também não podemos classificar Vivência com Arte na categoria Arte-educação, já que essa categoria consiste somente em ensinar as técnicas básicas das Artes Plásticas.
Vivência com Arte consiste em levar o indivíduo a vivenciar o processo artístico. Com isso, o possibilitando a realizar o que a autora Beth Edwards menciona como transição da modalidade E para D. A transição E para D seria a mudança do estado de consciência relacionado ao hemisfério esquerdo (lógico, analítico, temporal, linear etc.) para o hemisfério direito (intuitivo, analógico, não temporal, holístico etc.).
A autora explica que de acordo com as experiências tanto dos seus alunos, como as dela mesma e dos seus amigos artistas, quando realmente há a transição da modalidade E para D a sensação mental é bastante agradável. Em seu livro, cita o seguinte depoimento:
Quando eu realmente trabalho bem, a sensação é fabulosa. Sinto-me unificado com o trabalho: o pintor e a pintura tornam-se uma coisa só. Sinto-me entusiasmado, porém calmo – jubiloso, porém perfeitamente controlado. Não é propriamente felicidade: é mais como satisfação. Acho que é por isso que procuro estar sempre pintando ou desenhando.[5]
Verificamos que o indivíduo nesse estado de consciência, estimulado por elementos simbólicos construtivos, no processo de visualização, antes e depois do fazer artístico, experimenta sentimentos positivos como o de paz, amor, gratidão, etc. Assim, além de vivenciar momentos prazerosos, aprendendo ou praticando as Artes Plásticas, ele os incorpora em sua vida, podendo acessá-los sempre que desejar e o seu momento permitir.
Vivência com Arte tem como base o método P.E.R.A. (Percepção, Expressão, Reflexão e Ação), desenvolvido pela Drª Eunice Vaz Yoshiura[6], professora aposentada pela UNESP, que atuou por mais de trinta anos nesse área.
Esse método permite o estabelecimento de novas sinapses cerebrais, construtivas, fazendo com que a pessoa se torne mais criativa e consciente da sua capacidade na produção de bem-estar. Por consequência, melhoras na sua saúde acontecerão, como também, um novo olhar para a vida.
Igualmente ao método P.E.R.A., na íntegra, Vivência com Arte, em suas etapas: soltura corporal, visualização, prática artística e diálogo, acrescido da interação afetiva do “facilitador” do trabalho, permite que gradualmente o indivíduo tenha uma comunicação com o seu Self.
Bibliografia:
Edwards, Beth. Desenhando com o lado direito do cérebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2015.
Marue, Koji. Mente e saúde. São Paulo: Ed Gráfica Topan-Press /Fundação Mokiti Okada, 1988.
Mello, Paulo Barreto Campello de. A receita da vida: a arte na medicina. Recide: EDUPE, 2006.
A arte na medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=tYATDtWRRqI&feature=share, acesso em 10/6/2019.
Olivier, Lou de. Psicopedagogia e arteterapia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
Philippini, Ângela. Arte Terapia: contribuição para uma cultura da paz. Revista Arte Terapia: coleção imagens da transformação. (Rio de Janeiro), v. 10, p.45-52, 2003.
Yoshiura, Eunice Vaz. Constituição do sujeito receptor na comunicação. São Paulo: Annablume, 2009.
Winnicott, Donald Woods. Natureza humana.
Rio de Janeiro: Imago, 2014.
[1]Graduada em Artes pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo; especialista em Cultura e Arte Barroca pelo Instituto de Filosofia, Artes e Cultura da UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto; mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP – Universidade Estadual Paulista; doutora em Estruturas Ambientais Urbanas, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – Universidade de São Paulo; professora universitária de Artes, Arquitetura e Design, atuou em diversas instituições de ensino (atuando); atuou na aplicação do método P.E.R.A., em vários locais, juntamente com a sua idealizadora, Profª Drª Eunice Yoshiura, professora aposentada pela UNESP; foi proprietária do estúdio de artes VIVarte, à Rua Indiana, 1.061 – Brooklin – São Paulo – SP. Contato: (11) 2425-2408 /(11) 99301-3880 / iamcris@osite.com.br /Facebook: VIVarte – criatividade promovendo saúde.
[2]Mello, Paulo Barreto Campello de. A arte algumas vezes cura, em outras alivia, mas sempre consola. Disponível em http://www.alquimyart.com.br/node/41, acesso em 27/ 3 /2008.
[3] Olivier, 2007, p. 35.
[4] Olivier, 2007, p.40-1.
[5] Edwards, 2000, p.72.
[6] Inicialmente, os resultados das pesquisas da professora fizeram parte da sua dissertação de mestrado, defendida pela ECA USP. Posteriormente, acrescido de novas descobertas, a pesquisa resultou em tese de doutorado, também defendida pela ECA USP. Entre vários locais, a pesquisa se desenvolveu, por mais de trinta anos, na Fundação Mokiti Okada, na cidade de São Paulo.