A utilização de velhas técnicas construtivas como agente transformador do desenvolvimento ambiental – COBERTURAS VIVAS.
Por Carlos Guerra e Lucianna Gerghi – G+ Arquitetura
O crescimento das cidades brasileiras nos séculos XX e XXI se deu de maneira desordenada e tem como uma de suas principais características o uso do concreto e cimento de forma desenfreada. Dito isso, podemos dizer que as cidades hoje encontram-se bastante impermeáveis, uma vez que pouco se respeitam as taxas de permeabilidade definidas em legislação. Junta-se a isso o fato de que não aproveitamos as nossas centralidades e o crescimento predatório para as periferias nos causa cada vez mais danos ambientais que incluem, por exemplo, a baixa qualidade do ar, aumento da temperatura ambiental, enchentes; além do crescimento de moradias precárias e insalubridade urbana.
O uso do concreto também contribui para o aumento dos níveis de reflexão e emissão de radiação térmica que são muito maiores comparativamente a paisagens naturais. Devido a estas características e ao constante crescimento demográfico, surge o fenômeno conhecido como ilhas de calor. Estas ilhas aumentam consideravelmente as temperaturas das cidades, principalmente as que se encontram nas latitudes médias e com baixa amplitude térmica.
Uma das soluções estudadas para minimizar os efeitos das ilhas de calor, seria a criação de ilhas verdes, utilizando-se o plantio de árvores, aumento da permeabilidade do solo e revestir muros, paredes e coberturas das edificações com vegetação.
Compreendendo a necessidade de aumentar as preocupações e responsabilidades ambientais, as coberturas vivas são elementos importantes para essa remodelação da postura urbana, mas ao mesmo tempo observa-se um despreparo dos projetistas para absorver e empregar essa tecnologia.
O que são coberturas vivas?
As coberturas vivas nada mais são que a criação, nas coberturas das edificações, de jardins. Esta tecnologia pode parecer recente, mas vem sendo utilizada pelo homem ao longo dos anos em diferentes locais do planeta. Sempre foi associada ao condicionamento térmico das edificações e na proteção contra a entrada de água nas edificações.
Sua utilização data de do século 78 a.C. pelos mesopotâmicos e tinha como função trabalhar como moderadores das temperaturas elevadas. Também foram utilizadas por escandinavos, de modo a compor e integrar a arquitetura das edificações vernaculares, exercendo a função de conservar o calor, dada as baixas temperaturas da região.
Atualmente a Alemanha é o único país do mundo com telhados verdes aplicados em escala significativa, mas essa tendência vem se espalhando. No Brasil o conceito existe há muito tempo, mas a viabilidade de execução se mostrou difícil no passado e, por conta de heranças culturais, não se modernizou a tecnologia. Porém, com a evolução das técnicas construtivas e dos novos recursos de impermeabilização, cada vez se torna viável a execução de jardins em lajes e telhados.
A cobertura viva é sempre composta por um conjunto de associações de materiais e produtos diferentes. Basicamente, e de maneira simplificada, podemos dizer que é composta pela impermeabilização, camada drenante, substrato, drenagem, vegetação e irrigação. A impermeabilização é a etapa mais importante, pois garante a estanqueidade da cobertura e assim garante a durabilidade da edificação. A drenagem também se faz importante pois dela depende o sucesso da implantação da cobertura uma vez que exclui a possibilidade de solapamento do substrato e do apodrecimento das raízes, além de diminuir a carga sobre a estrutura da edificação. A escolha da vegetação também deve ser bem estudada levando em consideração o clima, insolação, índice pluviométrico e as necessidades básicas das espécies a serem transplantadas.
Nosso escritório tem vasto conhecimento na definição de diretrizes/projetos e execução de coberturas vivas, adquiridas em inúmeros trabalhos desenvolvidos para diversos clientes.
Algumas obras executadas.
Residência Thais e Marcelo – Pinheiros – São Paulo – 2015
Objetivo: Foi solicitação dos clientes e execução de cobertura viva sobre laje com plantio de hortaliças para consumo da família.
Residência Mozart e Mazé – Jundiaí – SP – 2017
Objetivo: Conter a infiltração em laje existente e criar integração entre o jardim e a casa.
Bibliografia
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FROTA, A. B; SCHIFFER, S. R. Manual de Conforto Térmico. São Paulo: Studio Nobel, 1999.
MINGUET, Josep Maria. Roofs, Cubiertas, Coberturas. Barcelona, Instituto Monsa de Ediciones, 2010.
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